segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

RELATÓRIO DE VIAGEM : "O Sertão tem Histórias - Lendas, Religiosidades e Representações Sertanejas"

Foto 1: Igreja Católica de N. S. das Dores
A viagem de estudo ao sertão, foi organizada pela discipina Temas de História de  Sergipe II, ministrada pelo professor Antônio Lindvaldo e teve início, com a saída de Aracaju às 7:00hs da manhã do sábado,  dia 26/01/2013 com destino a N. Senhora das Dores, onde chegamos por volta de 8:05hs para tomar café da manhã no restaurante  “Rota do Cangaço”. Após o café, nos dirigimos  para uma visita a Igreja católica de Nossa Senhora das Dores, em seguida às 9:05 hs trabalhando como tema “Religiosidade” começaram as apresentações de Magneide ex aluna da UFS, sucedendo com apresentação e demonstração do grupo dos penitentes, posteriormente a explanação do profº João Paulo, todos residentes na cidade, bem como, da exibição de um vídeo da sexta-feira santa.

A professora Magneide é graduada em história pela UFS, apresentou sua monografia, pesquisa realizada  para conclusão de curso, que teve como tema a procissão dos penitentes, com a presença de um dos seus entrevistados, onde abordou a linha teórica de Pierre Bourdieu, e também se utilizou amiúde como referência o pesquisador folclorista Alceu Maynard Araújo. A procissão dos penitentes tem hoje em torno de 700 a 800 componentes, no entanto, de acordo com Magneide, nos anos iniciais essa procissão era fechada, isto é, só tinha a participação de homens, além disso, tinha poucos participantes. As pessoas não acompanhavam  a procissão, por que não era bem aceita pela população, haja vista, que não era uma procissão oficial da igreja.
 
Foto 2: Profª Magneide e  Profº. Lindvaldo



Os principais elementos que compõe a procissão são:  o cemitério, os pagadores de promessas, e as matracas. Comenta Magneide, que com o profeta Campos, houve uma quebra na regra existente anteriormente, onde a primeira modificação se deve a abertura para a participação de outras pessoas; a segunda foi a introdução dos meios de comunicação para divulgar o evento; e a terceira se deve a aceitação da procissão pelo padre  Raimundo Cruz. Atualmente a procissão sai às 7:00 hs e retorna à igreja às 3:00 hs da manhã. Após sua explanação, houve uma apresentação dos penitentes, caracterizados com suas vestes no mesmo local.



Foto 3: Amostra dos penitentes no local.

Dando continuidade a programação, o Profº. João Paulo fez sua apresentação que teve como título, “A igreja Católica em N. Senhora das Dores,” trabalhando as quatro procissões: cruzeiro do século; procissão do senhor morto; madeiro; penitentes. Esta pesquisa foi desenvolvida em sua graduação, que posteriormente foi ampliada em sua dissertação de mestrado, com o tema: “Uma Cruz para os Enforcados”. De acordo com o prof°. João Paulo que pesquisou, “A Igreja Católica em Sergipe no século XIX,” tudo tem início com a criação da vila em 1950, e alguns anos depois em 1958 se deu a criação da freguesia.

Destacou também a importância da vila no cenário econômico, com a produção de cana-de-açúcar e a criação de gado. A despeito da procissão dos penitentes, de acordo com o mesmo, surge em um período em que ocorreu grande seca e várias epidemias, e as pessoas acreditavam que esses infortúnios eram provenientes da quantidade de pecados do povo, isto é, castigo divino, nesse sentido, a procissão foi criada com o intuito de fazer com que as pessoas se redimissem e pagassem seus pecados. Após sua fala, foi exibido um vídeo documentário da sexta-feira santa, onde foi possível observar as características das quatro procissões: cruzeiro do século; senhor morto; madeiro; penitentes.


Foto 4: Alunos da disciplina vendo a palestra do Profº João Paulo
Finalizamos nossas atividades em N. Senhora das Dores, e após o almoço no mesmo local, seguimos para N.Senhora da Glória, onde descansamos até a retomada das atividades que se deu às 20:25hs, com a apresentação do Profº. Antônio Lindivaldo, abordando o tema: “ O mito do lobisomem” (João Valentim). João Valentim nasceu em Aquidabã em 1915, chegou em Monte Alegre na década de 1970, e morreu com 82 anos, no município de N. Senhora do Socorro – Taiçoca, sendo enterrado no cemitério S. João Batista. Em sua explanação, o profº. Lindivaldo procurou tratar o tema, dando ênfase ao João Valentim pertencente a cultura sertaneja, e não  como mito, haja vista, que  o lobisomem foi uma construção coletiva e também individual, más sim, como homem que desempenhou a profissão de vaqueiro, de curandeiro, e por conhecer o comportamentos dos animais, e ter uma estrutura física desgastada, com unhas grandes, aparência envelhecida, se utilizou desses  artifícios contribuindo na construção do mito.
          Às 21:05hs, teve início a apresentação do prof°. Uilder Celestino, trabalhando o tema: “Relações com o Passado: a experiência da arte de Véio e a leitura do tempo pela história”. Em sua explanação, o profº. Uilder abordou Véio (Cícero), desenvolvendo as atividades de colecionista; artesão; escultor e agricultor, com exibição em slides do atelier, peças e casa onde mora. Em 1982 , Véio teve seus trabalhos expostos em museus e memoriais, destacando as três fases de exposição de seus trabalhos. Na primeira fase, retratou o sertão em Paris, trabalhando com peças minúsculas o dia-a-dia nordestino, na segunda fase, procurou dá uma pausa e repensar seu trabalho, e na terceira fase, também teve seus trabalhos expostos na França e em outros Países. Uma das suas representações em escultura é a figura de uma mulher grávida com sete meninos ao redor e com a mão não cabeça fazendo referência ao mito do lobisomem. Às 21: 45hs teve início ao sarau, com a apresentação de MPB pelo cantor Igor, aboiadores, e por fim, apresentação do forró pé de serra.




Foto 5: Prof.º Eloy
 No dia 27/01/2013,após o café da manhã, saímos de N. Senhora da Glória às 8:45hs com destino a Monte Alegre, chegando lá, ouvimos uma série de depoimentos sobre o mito João Valentim. O primeiro depoimento ocorre às 9:30 hs, proferido pelo prof.º Cícero, que relata estórias vividas por ele e por amigos que conheciam o João Valentim, o segundo depoimento ocorre em outra casa, onde o profº. Eloy relata que, João Valentim era vaqueiro da fazenda de seu pai, e ele sendo muito curioso conversava com João Valentim, contando estórias que ocorreram com ele e com outros amigos, reforçando o mito do homem que virava lobisomem.
                                                                                                   
                                                                                             


Foto 6: Casa de João Valentim 
Em seguida, fomos conhecer a casa onde morou o João Valentim, que tem como atual morador o Sr. Brió como é conhecido, que embora nunca tenha conhecido João Valentim, se encontrava lá juntamente com outros moradores da rua que conheciam, e puderam dá alguns depoimentos a respeito do mesmo, bem como, de suas características físicas e etc. 


Foto: 7 "Capela Cruz dos Inocentes."

Às 10:45hs fizemos uma visita rápida ao cemitério, à cova do lobisomem do mal. Em seguida partimos em direção ao povoado sítios novos, onde almoçamos, e saímos por volta de 13:10hs, chegando a capela cruz dos inocentes às 13:15, que tem esse nome, por que alí, fora assassinado e enterrado um vendedor de ouro, que descansava em baixo de uma árvore, onde hoje se encontra a capela. Lá houve a apresentação do Sr. Genovito, que também é responsável por manter a tradição da carvalhada que ocorre entre os dias 01 e 03 de maio, e representa a luta entre os cristãos e os mouros. Às 15:00hs começou a apresentação da carvalhada que teve duração de duas horas.

 

Foto 8: Carvalhada
A carvalhada é composta de 12 homens, sendo 6 de cada lado, primeiramente ela parte da frente da capela e posteriormente segue em direção ao campo de batalha, acompanhada pela banda de pífano, que toca durante todo o tempo da apresentação, no final, eles retornam à frente da capela para a saudação à N. S. da Conceição, padroeira da capela, encerrando com um sapateado dos participantes. E por fim, às 17:40hs ocorre a nossa saída de Poço Redondo de volta à Aracaju.